Estátua em perigo

Furto de mais uma imagem em vista?

Monumento em homenagem à lenda Negrinho do Pastoreio apareceu com sinais de marretadas e um dos pés começou a ser serrado

Carlos Queiroz -

Ela está ali há mais de 50 anos. Pelo tamanho é pouco vista e lembrada por quem passa pelas redondezas. Mesmo assim, carrega tamanha importância para a história gaúcha, já que homenageia a lenda Negrinho do Pastoreio. Moldada pelo artista Vasco Prado, a estátua do menino apresenta atualmente sinais de que começou a ser serrada e foi martelada. Podem ser indícios de que a imagem está no alvo para ser furtada, como ocorreu recentemente com o busto de Getúlio Vargas.

Quem for até a avenida Bento Gonçalves, entre as ruas Marcílio Dias e Professor Araújo, e voltar a atenção para a estátua do Negrinho do Pastoreio, em poucos segundos consegue notar os sinais de vandalismo. Além da sujeira ao seu redor e dos estragos do tempo, o tornozelo esquerdo está serrado, uma das mãos está depredada e parte das nádegas está amassada, por conta de possíveis marretadas.

O Negrinho do Pastoreio é um dos personagens mais conhecidos do Rio Grande do Sul e ganhou vida através das palavras do escritor pelotense João Simões Lopes Neto. A lenda conta a história de um menino escravizado que recebeu um milagre de Nossa Senhora por ser um inocente que sofreu com castigos de um estancieiro. E pelas mãos do escultor Vasco Prado a lenda foi moldada em forma de estátuas que estão espalhadas pelo Estado.

Ao todo são quatro imagens: em Pelotas, Alegrete, Porto Alegre e São Francisco de Paula, doadas aos municípios através de uma iniciativa do governo do Estado, conta o jornalista e sócio-fundador do Instituto João Simões Lopes Neto, Henrique Pires. E a obra localizada em uma das avenidas mais importantes de Pelotas, intitulada Negrinho Saindo do Formigueiro, foi inaugurada em 1963, em homenagem ao aniversário da cidade - conta o historiador e escritor José Francisco Alves.

Quando a prefeitura adquiriu o Castelo Simões Lopes a estátua deixou temporariamente a avenida Bento e foi levada para lá, onde passou a receber inúmeras manifestações de fé. “Em função da lenda, muitas pessoas iam até o menino e acendiam velas por conta de causas perdidas e realizavam a suas preces. Agora, devido à nova localização, muitas pessoas não fazem mais isso”, afirma o jornalista. E faz questão de pontuar a relevância da imagem, já que é a única que homenageia o personagem negro no município.

Já o historiador José Francisco Alves também destaca a importância do trabalho. “A obra remete em si a transição do regionalismo para o modernismo, que Vasco Prado traz em seus trabalhos”, explica. “Além disso é uma peça única, feita de bronze, em tamanho público feita para estar na visão de todos. A rua é o lugar dela, mas se o povo ao seu redor não sabe cuidá-la, é necessário que seja retirada para ser restaurada e a história ser mantida segura”, complementa o escritor.

Medidas para evitar o pior

Tendo em vista que a obra pode estar no alvo de possíveis furtos, a Secretaria de Cultura (Secult), informou que esteve no local para averiguar a situação e constatou os danos recentes. Para evitar que o monumento sofra novos ataques ou seja furtado, a Secult irá organizar logística para retirá-lo do local, com a ajuda da Secretaria de Obras e Pavimentação, e transportá-lo de maneira segura para outro ponto a ser definido.

A Secretaria ainda informou que a equipe de Conservação e Restauro do Museu da Baronesa deve visitar a estátua, para ser definida a melhor estratégia de transporte. Aliado a isso, o orçamento para restaurar a estrutura já foi solicitado pelo município.

Onde está o busto de Getúlio?
Ainda não há respostas para o furto do busto do ex-presidente Getúlio Vargas, que ficava localizado na rua 15 de Novembro e despareceu no mês de julho. A investigação é realizada pela Polícia Federal (PF), por se tratar de uma área de patrimônio histórico tombado.

O delegado responsável pela investigação, Robson Robin, relata que desde a madrugada do furto a PF está empenhada em resolver a situação. Até o momento, todavia, não foi possível chegar a conclusões. "Nós estamos nos esforçando desde aquela ocasião para resolver a situação. Pedimos imagens dos comércios e repartições das redondezas, mas a qualidade das imagens influenciou. Além disso, era uma noite com muita serração, o que dificultou o processo. Dessa forma, ainda não foi possível localizar o monumento", explica.

Apesar disso, o delegado relata que, ao que tudo indica, o suspeito é um morador em situação de rua, forte, com altura mediana e que saiu do local com uma sacola nas costas. As investigações já apontaram a dois suspeitos. "Nosso desejo é identificar quem levou o busto, mas principalmente encontrá-lo, devido à importância histórica tão grande para o município", finaliza.

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